quinta-feira, 9 de julho de 2009

O processo inibitório da criança

Cada vez mais as expressões artísticas são encaradas como mais seriedade no processo de ensino/aprendizagem, principalmente na educação infantil quando a criança está em desenvolvimento cognitivo e a arte pode representar uma ferramenta importantíssima neste processo. Sendo assim, é preciso encarar as atividades artísticas desenvolvidas no ambiente escolar com a devida seriedade e criar condições para sua ampla utilização.

A criança precisa de espaço e liberdade para criar, mostrando seus sentimentos e pensamentos transformando-se em seres mais sensíveis ao mundo a sua volta. Quando a criança interage com o meio ela se torna mais aberta e capaz de desenvolver seus desejos, porém quando há interferências, seja dos pais, professores ou de qualquer adulto, mostrando-lhe qual a melhor forma ou autoritariamente lhe dizendo como fazer, reprimindo-a ou ainda corrigindo-a, possivelmente levando-a a um processo que resultará na sua inibição, fragilizando-a e lhe impossibilitando de se desenvolver. Como afirma Lowenfeld:

"a maior contribuição do ambiente familiar a favor da arte infantil consiste em não interferir no desenvolvimento natural das crianças. A maioria delas se expressa livremente e de forma original, quando não sofre inibição provocada pela interferência dos adultos." (LOWENFELD, 1977, p.21).

Sabemos que muitas dessas interferências são feitas na tentativa de ajudar a criança, porém essa interferência, mesmo que baseadas em boas intenções, terminam por prejudicar o desenvolvimento autônomo da mesma, como por exemplo: corrigir ou tentar ajudar; supervalorizar os resultados dos trabalhos; esperar que o que foi criado o agrade; dar preferência a algum trabalho desenvolvido; estimular a concorrência entre as crianças (LOWENFELD, 1977, p. 75-76). Sendo assim, quando os pais quiserem ajudar os seus filhos em atividades relacionadas à arte eles devem proceder oferecendo à criança condições para criar autonomamente, por exemplo: considerar a expressão artística como uma expressão da personalidade da criança; considerar aquela atividade como uma experiência importante para o seu desenvolvimento; entender que a criança se expressa diferentemente do adulto; ensinar as crianças a respeitar o trabalho das outras; matricular a criança num curso de arte infantil; não valorizar o trabalho de apenas uma criança ou só um trabalho (LOWENFELD, 1977, p. 75-76).

No parágrafo anterior, foi discutido o papel dos pais em relação a melhor atitude deles no processo de criação artística da criança. Agora, passo a discutir, o papel do professor neste mesmo processo. Para haver um bom relacionamento entre professores e alunos é preciso respeito e compreensão. O professor é a ponte entre a criança e a aprendizagem, porém ele não deve exercer de forma autoritária a sua condição de mediador, interferindo no processo criativo da criança, por exemplo: trazendo-lhe desenhos prontos, determinar cores, elogiar mais um trabalho que o outro, tentar corrigir algo que na sua visão esteja desproporcional, como afirma Lowenfeld e Brittain:

"Expor uma aprendizagem artística que inclua tais tipos de atividades é pior de que não dar aprendizagem alguma. São atividades pré-solucionadas que obrigam as crianças a um comportamento imitativo e inibem sua própria expressão criadora; esses trabalhos não estimulam o desenvolvimento emocional, visto que qualquer variação produzida pela criança só pode ser um equívoco; não incentivam as aptidões, porquanto estas se desenvolvem a partir da expressão pessoal. Pelo contrário, apenas servem para condicionar a criança, levando-a a aceitar, como arte, os conceitos adultos, uma arte que é incapaz de produzir sozinha e que, portanto, frustra seus próprios impulsos criadores." (apud: ZANIN, 2004, p. 59)

Ao invés disto, o professor deverá mediar as atividades sem interferir, incentivando seus alunos a criar livremente e interagir com seus colegas. Ao final o professor deve direcionar a culminância da atividade para uma exposição dos trabalhos onde todos tenham a mesma relevância, evitando assim, um espírito competitivo por parte das crianças e, ao mesmo tempo, dando destaque ao que foi produzido o que as estimulará para novas produções.

Finalizando, reafirmo a necessidade de possibilitar as crianças condições para que possam se expressar autonomamente em termos artísticos como forma de contribuir para o seu desenvolvimento cognitivo. Assim sendo, a arte ocupa um lugar privilegiado, pois estimula o referido desenvolvimento de uma forma lúdica tornando-se assim uma atividade prazerosa que transforma a aprendizagem escolar numa extensão da infância e não na interrupção desta.

Referências bibliográficas.

ZANIN, Vilma Pereira Martins. Arte e educação: um encontro possível. Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v.2, n.1, p. 57 - 66, jan./jun., 2004.

LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte. Trad.: Miguel Maillet. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

LOWENFELD, Viktor; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da capacidade criadora. Trad.: Álvaro Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

Um comentário:

  1. Muuito, muito bom mesmo. Gostei, me axiliou bastante no meu trabalho da faculdade. Obrigada.

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