sexta-feira, 3 de julho de 2009

DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

Foi utilizado como base principal para este texto o livro “Psicologia do Desenvolvimento”, de Ângela Biaggio. Como o próprio nome já informa, trata-se de varias temáticas relacionadas à Psicologia do Desenvolvimento. A temática abordada é “Linguagem”, desenvolvido no capítulo 7 desta obra, com respaldo de vários teóricos, entre eles destacam-se Lenneberg, Vygotsky e Piaget.

A temática ficou dividida da seguinte forma: Significado da Palavra “Linguagem”; Correntes Antagônicas (Behaviorista X Psicolingüística), Processos do Desenvolvimento da Linguagem (Fase Pré-Lingüística, Primeiras Palavras, Sintaxe).

Uma das definições, no dicionário Aurélio, para a palavra linguagem é que esta significa o uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre pessoas. A partir desta definição podemos iniciar a apresentação do tema “Processo de Aquisição da Linguagem”, com ênfase na criança, considerando que todas as crianças nascem aptas a aprender qualquer idioma.

Biaggio se Baseia em duas correntes antagônicas: behaviorista, a qual esta ligada a aprendizagem; e a psicolingüística. A linha Behaviorista é empirista, baseia-se na teoria do condicionamento aplicada à linguagem, proposta por Skinner, Staats e Mowrer, e considera a Psicologia como ciência natural, envolvendo a inclusão dos processos de mediação, os quais expliquem a aquisição de significados e de sintaxe. A Psicolingüística possui o paradigma racionalista, o qual defende o inatismo, baseando-se nas idéias de Chomsky, propondo esclarecimentos sobre o desenvolvi mento da linguagem.

A teoria do condicionamento explana os aspectos da aquisição da linguagem tanto a falada quanto a de significados. Aquisição gradual de sons inicia-se a partir de simples sons sem sentido aparente, passando, em seguida, a pronuncias de sílabas, para só depois chegar às palavras. Os pais têm um papel fundamental na aquisição e/ou no desenvolvimento da linguagem da criança. Os pais assumem o papel de “reforçadores secundários”, estes costumam dizer que os bebês emitiram palavras, quando eles apenas balbuciaram. Com esta prática dos adultos, os bebês acabam aprendendo a língua do local onde está inserida. Após a primeira palavra dita pelo filho, os pais passam a exigir cada vez mais, corrigindo as pronuncias das palavras, controlando o comportamento verbal da criança. Uma vez que a criança possua um repertorio verbal de palavras ela passa a utilizá-las em grupos de palavras formando as frases.

Para Staats o desenvolvimento da linguagem não é função da maturação, mas sim do treinamento introduzido espontaneamente pelos adultos, resultando na expansão das frases. Gradualmente as seqüências de duas ou mais palavras se tornam unidades e por sua vez são associadas a outras unidades, até à estrutura gramatical complexa que é a linguagem dos adultos. A criança nasce sem conhecer os vocabulários, porém, através da interação com o meio ela adquire a linguagem.

O ponto de vista psicolingüístico é novo na Psicologia, que foi usado com mais intensidade em 1954 por Osgood e Sebeok, quando estes publicaram uma resenha de pesquisa na área. Para os estudiosos da Psicolingüística, as teorias da aprendizagem são inadequadas para explicar o desenvolvimento da linguagem. Aqui se defende que processo de desenvolvimento da linguagem envolve descoberta de relações entre “estruturas superficiais” ou “manifestações explícitas” da linguagem e as “estruturas subjacentes profundas e abstratas da linguagem. As estruturas superficiais são consideradas como uma variedade de expressões lingüísticas, o que é falado e escrito, derivando da estrutura profunda. As estruturas subjacentes são consideradas universais, comuns a todas as línguas, representando as capacidades inatas de todas as crianças.

Para os teóricos desta linha de pensamento a aquisição da linguagem nativa é alcançada por meio de uma interação entre a experiência lingüística da criança e suas capacidades inatas, neste caso a criança tem aptidão e predisposição para aprender a linguagem, que seriam biologicamente determinadas. A Psicolingüística dá ênfase aos fatores biológicos e ambientais, acreditando numa “pré-programação” do cérebro humano e de estruturas universais da linguagem para explicar seu desenvolvimento. Assim a Psicolingüística, ou teoria da aprendizagem, abrange o condicionamento, o reforço, os estímulos ambientais e a imitação para que assim haja a aquisição da linguagem.

Quando a criança aprende novas palavras, a pronúncia destas que já fazem parte do seu vocabulário se aperfeiçoa, e algumas dessas palavras acompanhadas com gestos. Por exemplo, quando a criança quer água pode falar uma palavra com o som parecidao apontando para um copo com água. Lenneberg traz à “explosão de nomeação”, para reforçar a posição psicolingüística. A “explosão de nomeação” acontece aproximadamente entre o 24° e o 30° mês da criança, quando o numero de palavras conhecidas por ela da um salto. Até um ano e meio a criança tem um vocabulário de 3 a 50 palavras, e ao completar 3 anos seu repertório passa de 1000 palavras, sem contar com outras 3000, que apesar de não pronunciar, ela compreende. Para Lenneberg este fato torna evidente que a linguagem se desenvolve por meio da maturação, de acordo com “cronogramas biológicos”. Ele acredita que crianças que contraem a meningite viral antes dos dois anos, ou seja, antes da “explosão de nomeação”, ficam nas mesmas condições de uma criança surda congênita. Porém se a surdez ocorreu depois dos três anos, ou depois da “explosão de nomeação”, quando a criança já tem uma carga de experiência lingüística, o treinamento da linguagem se torna mais fácil. Por meio de estudos de comparação entre bebês de audição normal, filhos de pais surdos congênitos, e bebês que vivem em condições “normais”, Lenneberg constatou que o desenvolvimento da linguagem das crianças filhas de pais surdos foi normal, sendo que aos três anos eram bilíngües.

Lenneberg defende também que o processo do desenvolvimento da linguagem pode cessar entre os 12 e 13 anos, como é possível verificar na aprendizagem da língua estrangeira. Geralmente, a criança que aprende uma língua estrangeira aos três ou quatro anos, não adquire sotaque. Depois dos doze anos, fica pouco provável que se aprenda uma nova língua sem sotaque, pois o cérebro já atingiu seu peso total, ou seja, a pessoa já atingiu o “nível máximo” de maturação, assim, para Lenneberg o desenvolvimento da linguagem está diretamente relacionado ao desenvolvimento motor.

Embora a teoria psicolingüística venha tendo recebido bastante atenção ultimamente, ela tem escassez de evidências, não explica de que maneira ocorre a aquisição da linguagem. A linha de pensamento behaviorista é feliz no seu esclarecimento sobre a linguagem falada, especialmente quando se retrata os estágios iniciais. Porém os behavioristas nos deixam a mercê sobre a formação de estruturas complexas da linguagem.

Mesmo que ainda não fale, a criança é capaz de entenderem as ordens dos adultos, identificando uma ação na fala deles, executando-a em seguida. Por exemplo, ao ouvir alguém dizer “vamos jogar bola”, a criança imediatamente pega uma bola. Para Piaget as crianças pequenas usam uma “conversa privada”, falam sobre o que estão fazendo, brincam com as palavras, mais do que os adultos. As conversas de crianças pré-escolares são focalizadas, ficando evidente a função social da linguagem.

A linguagem está profundamente ligada ao pensamento. A linguagem serve como uma solução de problemas à qual a criança pode aplicar os conhecimentos que já desenvolveram. Sendo assim, a linguagem das crianças reflete suas capacidades cognitivas do momento. Segundo Furth, o desenvolvimento intelectual das crianças surdas, apesar de se processar de forma mais lenta, passa pelos mesmos estágios, chegando ao mesmo nível das crianças com audição normal.

Para Piaget a linguagem não é absolutamente necessária para o desenvolvimento cognitivo. Por meio de suas pesquisas, ele constatou que as crianças de até um ano e meio (período sensório-motor) possuem pensamentos sobre objetos antes mesmo de darem nomes a eles. Antes de associar um objeto a uma palavra, a criança necessita de uma representação mental. Para ele o pensamento pode afetar a linguagem, porém o fato de não ter linguagem não impede o individuo de pensar.

Worf defende que a linguagem afeta sim o pensamento. Para se explicar, ele trás duas hipóteses correlacionadas. A primeira hipótese é do determinismo lingüístico, a qual garante que a estrutura da linguagem determina a estrutura do pensamento. A outra suposição seria o relativismo lingüístico, este diz que as formas da língua que a pessoa fala afetam a visão de mundo que elas têm.

O sociólogo inglês Basil Bernstein, revelou dois modelos de linguagem. O “código elaborado”, o qual pertence às classes média e alta, e o “código restrito”, que se refere à classe trabalhadora (inglesa). Bernstein argumenta que as pessoas de maior poder aquisitivo, utilizam frases mais longas, gramaticalmente mais complexas e precisas. Já as pessoas oriundas da classe popular, usam frases curtas, gramaticalmente não sofisticadas. Para ele, as crianças de classe baixa têm mais dificuldade de comunicação e menor habilidade gramatical.

Vygotsky defende que o pensamento e a fala têm raízes separadas mas depois se unem. Para ele, quando as crianças alcançam os 2 anos de idade, o pensamento e a linguagem se conectam. A fala passa a servir ao intelecto, e os pensamentos, por sua vez, começam a ser verbalizados. A criança passa a ter curiosidade pelas palavras, criando interesse em saber os nomes das coisas, e resultando num aumento acelerado do vocabulário. A partir deste ponto a criança conversa cada vez mais, consigo mesma, a principio descrevendo o que acabaram de fazer. Já aos 4 anos, a linguagem ajuda a criança a formar idéias, e estas falam em voz alta o que vai fazer em instantes.

Para Vygotsky, a “fala privada”, também conhecida como “fala interior”, tem sua origem na “fala social”, e aos poucos vai se tornado mais resumir e internalizada, sendo elementar para a organização do pensamento. Ele também crê que as crianças pequenas retêm um pouco de pensamento “não lingüístico” e também de fala “não intelectual” para resolver problemas e posteriormente é representada pelas palavras.

Com base no livro e em textos pesquisados, reparti o processo de desenvolvimento da linguagem, pelo qual a criança passa até alcançar a aquisição da linguagem, da seguinte forma: fase pré-lingüística (0 a 10 meses); Primeiras palavras (10 a 18 meses); Sintaxe (18 meses a 7 anos). Devemos considerar que cada criança apresenta a sua individualidade, sendo assim essas fases não são fixas como uma regra, variando de uma criança para outra, mas todas passam pelo mesmo processo independente do tempo.

Na fase pré-lingüística, as crianças passam por várias etapas antes de pronunciar qualquer palavra. O bebê nasce internacional, ou seja, apto a aprender qualquer idioma, distinguindo-os. O choro, por exemplo, é um dos principais meios que o bebê utiliza para indicar a alguém certo desconforto. Aqui também aparecem os gorgeios, que é quando o bebê se encontra em momentos agradáveis, emitindo sons graduais, e a ecolalia, que é caracterizada pela repetição consecutiva dos sons próprios dele, podendo produzir também alguns sons parecidos com os que escutam dos adultos. É a partir deste ponto que eles começam a pronunciar as suas primeiras palavras.

As Primeiras palavras acontecem entre os 12 aos 18 meses, provavelmente, ocorre o verdadeiro início do desenvolvimento da linguagem. Surgem as primeiras palavras, geralmente articuladas ao meio em que a criança vive, ou seja, as palavras que mais lhe são mais familiares, (ex: papai, mamãe, nenê, etc.). Neste período há o aparecimento da palavra-frase: holófrase. Uma palavra, geralmente um substituto, funciona como uma frase inteira. Se a criança diz “mamãe” isto pode significar “venha aqui mamãe”. Nesta fase começa a surgir também às primeiras palavras funcionais, onde normalmente, dá-se um prolongamento significativo: (ex: a criança chama de cachorro todos os animais que vê). A criança através do processo de socialização ela passa a ampliar o seu vocabulário, conseguindo formular frases, passando para a fase da sintaxe.

A Sintaxe surge quando o individuo formula frases compostas por dois ou mais elementos essenciais. Aqui, também, aparecem os períodos em plural, frases negativas, e suas primeiras construções interrogativas. Após aprender a elaborar sua primeira frase a criança faz grandes avanços, em pouco tempo ela consegue formular orações cada vez mais complexas. Suas ultimas aquisições significativas da linguagem surgem aos quatro anos e seis meses, quando sua fala se aproxima a de um adulto.

A área do desenvolvimento da linguagem é uma das mais atraentes, mais relevantes e mais divergentes da Psicologia do Desenvolvimento. O problema de como a criança aprende a linguagem é um dos problemas mais antigos encontrado na Psicologia, devendo ser estudado por todo aquele que deseja trabalhar no mundo infantil. Esta área é fundamental para a formação acadêmica do estudante de Pedagogia, pois dá um suporte para compreendermos o tema, e nos faz refletir no nosso cotidiano, por meio das vivências que temos crianças de variadas idades, compreendendo melhor as fases que as crianças passam para aquisição da linguagem, acompanhando seu desenvolvimento.

Fica aqui uma dica para assistir ao vídeo da série Viva o bebê, cujo titulo é “O uso das mãos/ o mundo das palavras”, para o caso deste texto, Desenvolvimento da Linguagem. ver “o mundo das palavras”, que é a 2ª parte. Este vídeo pode ser encontrado em VHS, por meio de locação com o custo de 2 reais, na videoteca da TVE (IRDEB - Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia), Localizada na rua Pedro Gama, 413/E - Alto do Sobradinho - Federação, em Salvafor/BA.

REFERÊNCIAS:

BIAGGIO, Ângela M. Brasil. Psicologia do Desenvolvimento. Petrópolis: Vozes, 1988. p. 162-180.


DIAS, Adriana Martins et al. Desenvolvimento da linguagem. Disponível em: http://paginas.terra.com.br/educacao/gentefina/linguagem.htm. Acesso em: 12 abr. 2007.


NCE. Aquisição da linguagem. Disponível em: http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/RenatoMaterial/aquisicao.htm. Acesso em: 18 maio 2007.


SCARPA, Ester Miriam. O Jogo, a Construção e o Erro: considerações sobre o desenvolvimento da linguagem na criança pré-escolar. Disponível em: http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_10_p054-064_c.pdf. Acesso em: 18 maio 2007.


Segue 2 vídeos, para descontrair, que abordam a temática, de alguma forma!


  • O 1° mostra que a linguagem tem um "certo" significado para a criança mesmo que seja o som de uma campainha! (Tente não rir)


  • O 2º trata-se de um comercial de telefonia, e mostra a capacidade de comunicação de uma criança, e um adulto que não sabe interpretá-la! (Precisa de tradutor?)






Um comentário:

  1. achei este material bastante interessante.FOI MUITO ÚTIL PARA MIM JÁ QUE CURSO PEDAGOGIA,E SINCERAMENTE ESTES VÍDEOS SÃO BÁRBAROS! ADOREI.

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